10 fevereiro, 2007

A outra Avó

Minha avó chamada Elvira
tinha sapatinhos de ouro
pendurados nas orelhas.
Era pequena, encolhida
falava pouco, sem gestos
olhava-me fixa e fria
como se ali não estivera.
Uma avó não é assim....
sem histórias pra contar
sem haver ralhos ou risos,
pensava então para mim.
E mantinha-me distante
também eu me calava
pequena e encolhida
observando a velha
e seus olhos de cágado.
A casa dela já na escada
cheirava a peixe frito
e as janelas fechadas
o soalho que rangia
as cadeiras alinhadas
à volta da mesa vazia...
Tudo era penumbra
e o medo de me mover,
mas não parava de olhar
os sapatinhos de ouro
que balançando de leve
lhe pendiam nas orelhas.
Acho que assim aprendi
a histórias inventar:
– Esta minha avó Elvira
era uma tartaruga velha
que comera uma princesa
que dançava pelos campos,
só lhe deixando de fora
seus pézinhos dourados
que teimavam balançando
das orelhas pendurados.


Sem comentários: