31 março, 2007

230 – A serpente


Veloz, brilhante
a serpente desliza
em esses verdes


21 março, 2007

229 – Monte a cima


Monte a cima
crianças sobem trenós
só para descer!


228 – Árvore de Natal


Ela esperou
a Noite de Natal
e seus brincos de cor.


227 – Pela janela


Pela janela
vejo um manto branco
- neve dormindo


226 – Casa em três pés

Casa em três pés
abrigo de Inverno
de passarinhos.


225 – Sol de Inverno


Sol de Inverno
ilumina, alegra
mas não aquece...


224 – Pequenos flocos


Pequenos flocos
pintaram a paisagem
em tons de branco


223 - Pingos de gelo


Pingos de gelo,
choro de anjo
ou doce de criança?


222 - A cerejeira


A cerejeira
envolvida em flores
chama abelhas


221 - Tocaram as mãos


Tocaram as mãos
sem saber, nem por querer.
O tempo parou.


220 – A borboleta


A borboleta
inebriada de cor
vai de flor em flor


219 – Sorri serena


Sorri serena
na espera do filho
ainda no ventre


218 – As lavadeiras


As lavadeiras
lavam,riem,batem
a roupa no rio


217 - Estalactites


Estalactites
escorrem dos telhados,
chegou o Natal


216 – Sapatos gastos



Sapatos gastos
rosto sem esperança
carrega a vida



215 - Café na mesa


Café na mesa
e cheiro a pão quente
-quase sou feliz


214- De olhar triste


De olhar triste
na colheita perdida
senta-se vazio.


213 – Tuas palavras


Tuas palavras
qual cartas de baralho

formam jogadas


212 - De pincel na mão


De pincel na mão
frente à branca tela
luta consigo


211 – O amolador


O amolador
anda e vai tocando

- chama a chuva.


210 - Palavras leves


Palavras leves
o eco as repete
vão soltas no ar


209 – Sol de Inverno

Sol de Inverno,
alegria do pobre
que não tem teto.


208 – Olhos chorando


Olhos chorando
e de coração partido
seguem em frente


18 março, 2007

207 – Rosa, Dália


Rosa, Dália
doces nomes de mulher
ternas, eternas.



206 – Pombo na varanda


Um pombo olha
tranqüilo na varanda
o gato no chão


203 - Cheiro a mato


Cheiro a mato
cores fortes e o som
do mar ao longe...


202 – Casa desfeita


Casa desfeita
perdida em lembranças
sou só pedaços


201 - Olhar errante


Olhar errante
entre hoje-amanhã
de mim distante


200 - Na areia molhada


Na areia molhada
céu e mar
brincam de espelho


199 - Envoltas em cor


Envoltas em cor
passam e deixam no ar
cheiro canela


198 - Imagem de Paz


Imagem de Paz
no céu azul as pombas
parecem dançar


17 março, 2007

197 - Ao entardecer


Ao entardecer
sonhando acordada
- bela sem querer


196 - Suave sorriso


Suave sorriso
pensamento ausente
esperas o dia


195 - A borboleta


Por instantes
a borboleta ganha forças
para voar
.


194 - Nos fios


Nos fios elétricos
os pássaros
escrevem música


193 – Mãos de trabalho


Mãos de trabalho
tocam delicadas
os frutos maduros


192 – É Primavera


É Primavera
frésias amarelas
chamam nos campos


191 - Presença


Uma flor na casa
é a lembrança
da tua presença


190 - Pombo gordo


O pombo gordo
de pezinhos vermelhos
caminha feliz


189 – O vento leva


O vento leva
a leve semente
de uma só asa


188 – Na casa


Na casa, janelas-olhos
para além de mim
aguardam


187 – E lentamente


E lentamente
o tempo escreveu dor
pelo seu rosto


186 – Na casa vazia


Na casa vazia
ficou o som do riso
das crianças


185 – Na vila


Na vila
a calçada imita ondas
É mar em terra


184 – Catarina


De olhos baixos
Catarina espera,
está, não pensa


183 – Carinhos


Cabeça inclinada
recebe carinhos
da mão amada


182 – Azuis e rosas


Azuis e rosas
sobre a serra escura
- a noite cai


181 – O mar brinca


O mar brinca
na areia e o vento
tem gosto a sal



180 – Com rosas de dor


Com rosas de dor

fez a coroa de adeus

para seu amor


179 – Lírios brancos


Lírios brancos

lembram borboletas

pousadas nos campos


178 - Na magnólia


Na magnólia
num enlace vegetal
a hera sobe



177 – No tronco


No tronco cortado

existem caminhos

veios sagrados


176 – Doces palavras


Doces palavras
só por ela ouvidas
chegam pelo fio


175 – No trem


No trem a mulher
sentada em frente
viaja ausente


174 – Crista erguida


Crista erguida,
olhar fatal, o galo
pára o rival


173 - Entre a folhagem


Entre a folhagem

duas romãs conversam

inclinando as coroas


172 – Romãs gémeas


No mesmo galho

duas romãs gémeas

contam seus rubis


171 – Cachos de uvas


Cachos de uvas
pendentes da parreira

roxas, maduras


170 – Estrelícias


Estrelícias no jardim

parecem pássaros

emplumados


169 – Nos chapéus


Nos chapéus negros

as ceifeiras trazem

papoilas rubras


16 março, 2007

168 – Papoilas vermelhas


Papoilas vermelhas
nos campos de trigo
são canções ao Sol


167 – Pétalas


Pétalas cor de sangue
em redor do gineceu
dão as mãos


166 – Cabelos


Cabelos negros
e saias rodadas
elas dançam ao vento


165 – Meninas papoilas


Meninas papoilas
bailam graciosas
numa perna só


164 – Ursos


Ursos, carrinhos...
agora outros cuidados
e carinhos


163 – No jardim


No jardim, as Fadas
deixaram mil pérolas
de orvalho


162 – Surpresa


Surpresa olho
a cidade já noite,
o céu ainda dia.


161 – Na varanda


Lá na varanda
uma árvore dança
com sua sombra


15 março, 2007

160 – Linhas na neve


Linhas na neve
seguem entrelaçadas,
momentos breves


159 – No céu toldado


No céu toldado
uma ameaça paira.
Menino, corre!


158 – No forno


No forno
a peça inacabada
brilha em brasa

157 – Cravos de Abril


Cravos de Abril
como areia entre dedos
sumiram


156 – Foto a sépia


Foto a sépia
passado e futuro
sem distâncias


155 - Em Óbidos


Rente á muralha
entre proteção e prisão
- as casas


154 – Casas brancas


Casas brancas
janelas de guilhotina
cheiros antigos


153 – Noite a dentro


Noite a dentro
se alonga plangente
voz de fadista


152 – Marujo


Marujo gingão
de quadril apertado
segue seu fado


151 - Pensamento


Um pensamento
passou rápido por mim
nem o vi fugir


150 – Sono breve


Num sono breve
a mulher sonha leve

sem do chão sair


149 - Casino


Entrou no casino
perdeu casaco
e a compostura


148 – Rosa rubra


A rosa rubra
no calor escaldante
toda se abriu


147 – Bairro Alto


Nas ruas estreitas
cheiros e conversas
saltam janelas


146 – Cidade velha


Cidade velha
há olhares como punhais
escondidos


145 – Mergulhei


Mergulhei nesse olhar
sem pressa nem medo
de me entregar


144 – A bailarina


Com gestos de amor
a bailarina
equilibra a dor


143 – Coxim


No seu coxim
aguarda o amado
tocando bandolim


142 – Só na cadeira


Só, na cadeira
ela balança
e o tempo vai e vem


141 – Olhos gastos


Olhos gastos de chorar
ainda esperam
sem esperar


11 março, 2007

140 – O lago


O lago ondula
em círculos,
um peixe salta no ar


139 - A estrela


A estrela que no céu brilha
nem sabe
do nosso olhar


138 – Maçã


No Verão quente
a maçã balança ao vento
sem cair


137 - Malas


Malas na mão
finda a viagem
procura o coração


136 – No azul


No azul do céu
o avião escreve
um traço sem giz


135 – Sem te ver


Sem te ver senti
teus passos teu cheiro
surgiste vertical


134 – Uma sombra


Pela calçada
uma sombra desliza
surda e só


133 - Dedos ágeis


Dedos ágeis
correndo o teclado
enchem o ar de sons


132 – A onda


A onda ergueu-se
majestosa
a gemer espuma


131 – Acabou


Acabou o verão

Os secos campos

Clamam por chuva


10 março, 2007

130 – Cores de Outono


Cores de Outono
doçura triste
na terra e no ar


129 – É Outono


É Outono
as folhas passaram
de verde a dourado


128 - Suspensas


Suspensas do galho
as folhas
agarram-se à árvore


127 – Árvore velha


Árvore velha
tuas raízes-dedos
entram na terra


126 – Crisântemos


Deitou dois crisântemos
ao rio e despediu-se
de si


125 - Corpo a corpo


Fogo na floresta
- luta corpo a corpo
com os homens


124 – Meus dias


Meus dias são cheios
de horas de espera
- Cesta vazia


123 – Umbigo


As aves não têm umbigo
nascem soltas
voam cedo


122 – Sol da tarde


O Sol da tarde
faz sombras longilíneas
à “El Greco”


121 – Malmequeres


Malmequeres amarelos
são malcheirosos
mas belos


09 março, 2007

120 – Abóbora


Abóbora suculenta
não tem braço
e é perneta



119 – Olho o pássaro


Olho o pássaro
que lá no céu voa
sem de mim saber


118 – Como gotas


Como as gotas
da torneira, meus dias
caem perdidos


117 – O sino


O sino badala,
abafa a água
no chafariz


116 – Chapéu de palha


Meu chapéu de palha
fugindo no ar
é Sol pequenino


115 - Sem pressas


Sem pressas
olhou o Sol
e acertou o relógio


114 - Onde estão


Onde estão os pássaros
que cantavam
tua chegada


113 – Voou


Voou para o Sul
- estações mudadas
perdeu o norte


112 – Sol


O Sol mergulha no Mar
envolto em véus
azul-vermelhos


111 – Madrugada


Madrugada
o galo canta
e as galinhas esperam


08 março, 2007

110 - Pela campina


Pela campina
um cavalo corre
de crinas ao vento


109 - Ao Sol sentada


Ao sol sentada
as mãos no ventre
acaricia o filho


108 - Rolas


No alto pinheiro
rolas conversam
ao cair da tarde


107 – Vidraça


Vidraça molhada
o menino
desenha a estrada


106 - Primavera


Primavera,
flores-borboletas
esvoaçam efémeras


104 - Olhar


Olhar de promessa
em promessa ficou
-adeus sem gestos


103 – Escuras


Escuras nuvens
envolvem a serra
capote de chuva


102 - Sino



O som do sino
atravessa a noite
e a minha alma


101 - Folhas secas



Nas folhas secas
meus pés desvendam
histórias antigas


100 - No balanço


No balanço da rede
olho as nuvens
- cavalos do céu.


07 março, 2007

099 - Na rua


Na rua a chuva
fez um rio.
as formigas protestam


098 - Boneca


Boneca de trapo
no baú esquecida
quem te beijou?


097 - Pentagramas


Pentagramas floridos
Nas verdes árvores
-Primavera


096 - Areia


Areia branca da praia
deixa a morena
mais quente


095 - Mãos pequeninas


Olhos a brilhar
nas mãos pequeninas
trazias me o mar


094- Teus cabelos


Lento passo os dedos
em teus cabelos longos
côr de mel


093 - Fada


Como se fada foras
passaste leve
entre as flores


092 - Sentada


Sentada na grama
a menina chora,
- orvalho de flor


091 – No Inverno


Inverno, o vento
dança com as folhas
a seu contento


090 – Nuvens


Densas nuvens
sobem a serra
silêncio nos campos


089 – Frésias


Frésias amarelas
Primavera perfumada
- amigo vem

088 – Outono


A folha treme
vermelho-dourada,
silenciosa cai


087 - Inverno


No aconchego
da terra, a semente
espera viva


086 - Viola



Longe, noite escura
uma viola geme
amor murmura


085 - Tu


Um som, um cheiro
e sem te ver te vejo
- és tu inteiro


084 - Ausência


Por toda a casa
tua ausência
lenta se arrasta



083 - Vento leste


O vento leste
brinca leve
e lento a despe


082 - Narciso


Debruçado no lago
Narciso surpreso
se vê amado


081 - Narciso esquece

Olhando nos olhos
que a água reflete
Narciso se esquece


080 - Dança de leito


Minha cabeça
em seu peito, seus dedos
em meus cabelos


079 - Enlaço


Com mãos de hera
enlaço teu corpo
oferto em espera


078 - No rio


A folha no rio
segue cega
alheia a margens


077 - A sereia


Na praia a sereia
anseia a onda
que a salve da areia


076 – Chove


Chove na mata
o sapo
baba e coaxa


075 – O sapo


O sapo deixa a baba
e marca
sua passagem


074 – Minha cidade


Oh minha cidade
quem te fere
e a tal se atreve?!


073 – Torre


Torre de cimento
cravada a pino
na beira do cais


072 - Inverno


Inverno longo
pesado, cinzento,
tropeço nas horas


071– Neblina


Neblina densa
entre as árvores
senti minhas raízes


070 - Um homem


Um homem caminha
cabisbaixo e só,
perdeu o que não tinha


069 - A abelha


A abelha voa vai
vem volta pesada
dourada de pólen


068 - Varal


Sob o varal
a cerejeira prepara
o amanhecer


067 – Relógio


Na noite em silêncio
o relógio presente
marca o passado


066 – Arco-íris


Arco-íris, um anjo
cabelos ao vento
salta à corda


065 – Na cama


Na cama de nuvens
o sol espreguiça-se

- oblongo



064 – Alexandria


No céu de Alexandria
estrelas falam
mitologia


063 – Flores


Flores na árvore
esperam de branco
surgir o fruto


062 - Gato chinês


O gato chinês
espera sentado
por sua vez


061 – Voar


Voar sempre cansa
por isso ela corre
em passo de dança


060 - Saltos


Lá vai de saltos
Dona pata apressada
correndo aos saldos


059 – Desafio


Por desafio
vestiu-se de gueixa
amor não sentiu


058 – Saltando


Saltando da mesa
a túlipa
foi passear


057 - Olhar esquivo


Olhar esquivo
corpo ondulante
sonho vivo


056 - Um cão


Um cão sonolento
esticou as patas,
soltou um vento.


055 – O Príncipe


O príncipe sapo
fugindo ao mau hálito
voltou ao charco.

054 – Narigudo


O senhor narigudo
tinha olho torto
e no pé um fungo


053 – Carinho


Com muito carinho,
a tia gorda
surra o sobrinho.


052 – Abrindo


Abrindo uma fresta
do carro de luxo,
joga a meleca


051 – O sultão


Sentado no chão
de saco vazio
suspira o sultão


050 – Na janela


Na janela em frente
uma criança sorri
- falta-lhe um dente


06 março, 2007

049 – Teus cabelos


Teus cabelos soltos
pedem libertos
carícias de vento



048 – Cai a noite


Cai a noite
e tuas tranças desfeitas
num leito vazio


047 – Palmo a palmo


Palmo a palmo
dedo a dedo
inicio teu percurso


046 – Sem pressa


Meus dedos-olhos
desvendam sem pressa
doces mistérios


045 – Teu corpo


Teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados


044 – Águia


Águia vê a minhoca
seu bico
nem a lama toca


043 – O ninho


No topo do choupo
o ninho persiste
-ai vento


042 – Pombo


Vento na árvore
semente no chão
pombo feliz


040 – Passarada

Seu olhar segue
o vôo do pássaro
será que desce?


040 – Passarada


Mal o dia clareia
a passarada
em coro chilreia



039 – O pavão


O pavão parado

no parque sozinho

espera o chamado


038 – Volta


Num vôo direto
o pássaro volta
procurando um teto


037 – Andorinhas

Sentadas no fio
há cinco andorinhas
fugidas do frio


036 – No ninho


No ninho do sabiá
quatro bocas
não param de piar


01 março, 2007

035 – Sabiá


Lindo sabiá
do peito amarelo
vem cá, vem cá


034 – O corvo


O trigal maduro
ondula ao vento...
- o corvo espera


033 – Parecendo


Parecendo dormir
plácido,
rápido filou o rato


032 – Tigreiro


O gato tigreiro
olha o sabiá
que voa ligeiro




031 – Preguiça


Sobre a mesa
o gato preguiça
ai doce Sol


030 – Grita


Ai como grita
ao pisar o gato
a velha aflita



029 – Cio


O gato no cio
mia e remia
canta ao desafio


028 – No prato


No prato com leite
a língua rosada
faz chap-chap


027 – Gatinha


Gatinha meiga
ao passar da mão
seu corpo se ajeita


026 – Parapeito


No parapeito
da velha janela
a gata espreita




025 - Olhar felino


Olhar felino
perfil egípcio
apanha sol


024 - Salto


A bola baila
o gato nem olha
salta e agarra


023 – Lareira crepitando


Lareira crepitando.
e um forte cheiro a café...
- Vem!



022 – Falha


Boca da fornalha
labaredas
dançam Falha


021 – Na lareira


Na lareira rubra
o velho pinheiro
ganha asas