28 novembro, 2007

E se eu fosse um raio de luz?


Se eu fosse um raio de luz
que no céu corre a brilhar
um pequeno raio de luz
que cor teria ao teu olhar?

Se eu fosse um raio de luz
que entre nuvens vai brincar
um pequeno raio de luz
que farias para me achar?

Se eu fosse um raio de luz
que vive no meio do ar
um pequeno raio de luz
como saberias me amar?

E se eu fosse um raio de luz
Que mal se pode enxergar
um pequeno raio de luz
Como poderias me pegar?


19 novembro, 2007

301 - Sete caracóis


Sete caracóis
alapados na rocha
dormem ao sol.



039 - Como se inventadas



Como se inventadas
estranhas criaturas
deslizam descuidadas
nas águas escuras.
Os corpos esguios
como notas de música
duma antiga melodia
indo e voltando
sem repetir compassos.
Os rostos brilhantes
como lembranças
de reflexos lunares,
algures numa noite
de verão já vivido.
Os cabelos asas
como leque aberto
em caricias de vento,
levam para os céus
minhas doces ninfas.



22 outubro, 2007

038 - No penhasco



No penhasco
olhando o mar ao longe
abro as asas
de meus sonhos doridos
sinto o vento
balsamo me envolvendo
e meu olhar
foge por fim livre e louco
raio de luz
sobrevoando o Oceano



28 setembro, 2007

O que escrevo



Se tudo o que escrevo
fosse verdade e vivido,
sem sonhos de permeio
nem sentidos pressentidos,
então eu seria o tinteiro
e da caneta a tinta,
mão, pincel, traço breve
em tela ou papel virgem,
ao me olhares tu verias
uma chama, carne viva.


03 setembro, 2007

300 – A bola foge



A bola foge
dum pé para o outro
sem ter descanso




299 – O sol nasceu



O sol nasceu
envolto em neblina
meio ensonado



298 – Fotos antigas



Fotos antigas
quase esquecidas
pedaços de vidas


297 – Numa só perna



Numa só perna
a cegonha espera
lugar no ninho



Dunas caminham



Dunas caminham
no sopro do vento
corpos de areia




295 – Duro inverno



Duro inverno,
o velho treme de frio
sem cobertor



294 - Luz de pirilampo



Luz de pirilampo
mais parece lanterna
de gnomo



293 – Ao sol sentada



Ao sol sentada
do livro esquecida
guardo teu beijo


292 – Adeus amigo


Palavras caem
com a terra e flores,
- Adeus amigo



291 – Cortando o ar



Cortando o ar
teu grito como punhal
-Oh Liberdade



290 – Um só grito



Um só grito
e depois silêncio
- assim partiste




289 – Vindo de longe



Vindo de longe
chegou em luto vestido
um som plangente



288 – Como vinho doce



Como vinho doce
um vento morno
correu a cidade



287 - Sobre o lago



Sobre o lago
a ponte de madeira
une as margens



286 – Passas no jardim


Passas no jardim,
cabeças de hortense
seguem teus passos



285 – Como amantes


Como amantes
trocam juras de amor
entre as folhas


284 - Pena



Pena, pedra,
penhasco habitado
por um sonho de rei



283 – Entre as árvores



Entre as árvores
surgiste de súbito
envolto em luz




282 – Muro de pedra



Muro de pedra
não chega para prender
a liberdade




281 – Como sentinela



Como sentinela
a árvore olha
o horizonte




280 - Em silêncio



Em silêncio
percorro caminhos
cheios de vazio



279 - Na velha rocha



Na velha rocha
musgos e fungos
fazem seus mundos




278 – Árvores dançam


Árvores dançam

de mil verdes vestidas

e braços aos céus




13 agosto, 2007

277 – Pingos de gelo



Pingos de gelo
enfeitam os telhados
- Natal de cristal


276 – No escuro céu


No escuro céu
a Lua Cheia brilha
de amor ao Sol


275 – Dois olhos verdes



Dois olhos verdes
espreitam no lago:
príncipe ou sapo


274 – A bola sobe


A bola sobe
desce corre e salta
parece ter vida


273 – A carta na mão


A carta na mão,
no medo de a ler
apenas suspiros


272 – Estrela cadente


Sigo no céu
a estrela cadente
que brilha e foge



271 – A grande rocha



A grande rocha
no meio do campo
parece dormir


270 – Serpenteando



Serpenteando
pelo jardim florido
seguem mãos dadas


269 – Na borda do lago



Na borda do lago
uma tartaruga
caminha lenta



06 julho, 2007

268 – Olhar suspenso


Olhar suspenso
lábios entreabertos
- esperas



267 – Perseverante


Perseverante
o escaravelho
empurra a terra



266 – No escuro céu


No escuro céu
A lua cheia brilha
no amor do sol



265 – Gatinho lindo


Gatinho lindo
meu colo te espera
vem me aquecer



31 maio, 2007

264 – O sol poente


O sol poente
pinta de vermelho
a velha cidade


263 – O pequeno gato


O pequeno gato
lambe a pata
e lava o nariz


262 - Luar na praia


Luar na praia
em noites de Agosto
beijos nas ondas



261 – Corpo enluarado



Teu corpo enluarado
é minha estrada
- meu passeio



260 - Estrela de neve


A estrela de neve
pousou branda
na luva vermelha


259 - O granizo


O granizo
tornou-se fino, leve
- chegou a neve


258 - Do alto monte


Do alto monte
cantamos e bebemos
ao Ano Novo




257 - Ano novo


Ano novo –
cores correm no céu
esperanças no olhar


10 maio, 2007

256 – Olhando o céu


Olhando o céu
deitada na areia
escuto o mar



255 – Fogueira


Corpos juntos
à volta da fogueira
contam segredos

254 – Archotes


À luz dos archotes
sombras e animais
surgem na gruta

253 – Pavio aceso


Pavio aceso
cera caindo na mão
lá vai palavrão


252 - Telúricos xistos


Telúricos xistos
abruptos, agudos
esperam o mar


07 maio, 2007

251 – Nos verdes prados


Nos verdes prados
voam cavalos brancos
anjos sem asas

250 - No céu azul


Lá no céu azul
duas nuvens brancas
dançam e balançam

249 – Pequena gata


Pequena gata
de patas fofas
passeia entre flores

248 – De olhar turvo


De olhar turvo
na capa vermelha,
o touro investe


247 – À porta sentada


À porta sentada
amamenta o filho
cheia de luz

246 – Braços em haste


Braços em haste
fogo nos pés ligeiros
- sangue andaluz


245 – Por um segundo


Por um segundo
cruzaram seus olhares
e se perderam

244 – Com um gemido


Com um gemido
presa do prazer sentido
adormeceu


243 – As damas da noite


As damas da noite
soltam seus perfumes
de mil cores

04 maio, 2007

242 – Dois homens-meninos


Dois homens-meninos
brincam de pássaros
no céu azul

241 – Assim se recolhe


Assim se recolhe
o que a todos acolhe
sorrindo

02 maio, 2007

Adeus


Adeus ameixeira
adeus quintal
adeus casa vazia
cheia de saudades
adeus meu amigo,
bati asas e voei
rumo ao Sul
rumo ao Sol
cheia de sonhos
e de lembranças.


25 Outubro de 2005



Partida anunciada


Como em foto
já esquecida
assim me olhei
ausente
sem ter partido.
Como o ontem
logo amanhã,
rio sem margens
correndo suave
e quente.
Noite, logo dia
assim é o tempo.
Guardei em adeus
este instante
de sépia vestido.


25 abril, 2007

Meus sonhos


Como se em sonhos

meus sonhos libertos

com outros trocassem

carinhos e gestos,

espelhando imagens

sons e miragens

tão desconhecidos

nunca pensados,

quanto mais vividos.

Como se de noite

qual cavalos soltos

sem freio nem dono

nossos sonhos loucos

corressem campinas

voassem pelos céus

na poeira de estrelas

senhores dos caminhos

sem olhar destinos.

Como água dos rios

correndo para o mar

sem medo de margens

rochas ou montanhas

simplesmente indo

assim são meus sonhos

que os teus procuram

para um inevitável

confluente abraçar.


14 abril, 2007

240 - Silenciosa


Silenciosa
a seiva percorre
troncos enrugados


239 - Pendentes


Pendentes do ramo
flores amarelas
resplendem ao Sol


238 – Ao nosso redor


Ao nosso redor
sinfonia de verdes
- amor à Vida


237 – Entre reflexos


Entre reflexos
e a realidade
fica o sonho


236 - Braços


Braços cobertos de flores
a árvore
saúda a terra


235 – A lagartixa


A lagartixa
saboreia o Verão
no branco muro


234 – Noites de verão


Noites de verão
serenatas nas ruas
amores no ar


233 – Olhar amarelo


Olhar amarelo
espreita no escuro
pronto a saltar


232 – À volta do templo


À volta do templo
as colunas cantam
eternidade


231 – Nuvens em pranto


Nuvens em pranto:

castelos desfeitos

ao sabor do vento


31 março, 2007

230 – A serpente


Veloz, brilhante
a serpente desliza
em esses verdes


21 março, 2007

229 – Monte a cima


Monte a cima
crianças sobem trenós
só para descer!


228 – Árvore de Natal


Ela esperou
a Noite de Natal
e seus brincos de cor.


227 – Pela janela


Pela janela
vejo um manto branco
- neve dormindo


226 – Casa em três pés

Casa em três pés
abrigo de Inverno
de passarinhos.


225 – Sol de Inverno


Sol de Inverno
ilumina, alegra
mas não aquece...


224 – Pequenos flocos


Pequenos flocos
pintaram a paisagem
em tons de branco


223 - Pingos de gelo


Pingos de gelo,
choro de anjo
ou doce de criança?


222 - A cerejeira


A cerejeira
envolvida em flores
chama abelhas


221 - Tocaram as mãos


Tocaram as mãos
sem saber, nem por querer.
O tempo parou.


220 – A borboleta


A borboleta
inebriada de cor
vai de flor em flor


219 – Sorri serena


Sorri serena
na espera do filho
ainda no ventre


218 – As lavadeiras


As lavadeiras
lavam,riem,batem
a roupa no rio


217 - Estalactites


Estalactites
escorrem dos telhados,
chegou o Natal


216 – Sapatos gastos



Sapatos gastos
rosto sem esperança
carrega a vida



215 - Café na mesa


Café na mesa
e cheiro a pão quente
-quase sou feliz


214- De olhar triste


De olhar triste
na colheita perdida
senta-se vazio.


213 – Tuas palavras


Tuas palavras
qual cartas de baralho

formam jogadas


212 - De pincel na mão


De pincel na mão
frente à branca tela
luta consigo


211 – O amolador


O amolador
anda e vai tocando

- chama a chuva.


210 - Palavras leves


Palavras leves
o eco as repete
vão soltas no ar


209 – Sol de Inverno

Sol de Inverno,
alegria do pobre
que não tem teto.


208 – Olhos chorando


Olhos chorando
e de coração partido
seguem em frente


18 março, 2007

207 – Rosa, Dália


Rosa, Dália
doces nomes de mulher
ternas, eternas.



206 – Pombo na varanda


Um pombo olha
tranqüilo na varanda
o gato no chão


203 - Cheiro a mato


Cheiro a mato
cores fortes e o som
do mar ao longe...


202 – Casa desfeita


Casa desfeita
perdida em lembranças
sou só pedaços


201 - Olhar errante


Olhar errante
entre hoje-amanhã
de mim distante


200 - Na areia molhada


Na areia molhada
céu e mar
brincam de espelho


199 - Envoltas em cor


Envoltas em cor
passam e deixam no ar
cheiro canela


198 - Imagem de Paz


Imagem de Paz
no céu azul as pombas
parecem dançar


17 março, 2007

197 - Ao entardecer


Ao entardecer
sonhando acordada
- bela sem querer


196 - Suave sorriso


Suave sorriso
pensamento ausente
esperas o dia


195 - A borboleta


Por instantes
a borboleta ganha forças
para voar
.


194 - Nos fios


Nos fios elétricos
os pássaros
escrevem música


193 – Mãos de trabalho


Mãos de trabalho
tocam delicadas
os frutos maduros


192 – É Primavera


É Primavera
frésias amarelas
chamam nos campos


191 - Presença


Uma flor na casa
é a lembrança
da tua presença


190 - Pombo gordo


O pombo gordo
de pezinhos vermelhos
caminha feliz


189 – O vento leva


O vento leva
a leve semente
de uma só asa


188 – Na casa


Na casa, janelas-olhos
para além de mim
aguardam


187 – E lentamente


E lentamente
o tempo escreveu dor
pelo seu rosto


186 – Na casa vazia


Na casa vazia
ficou o som do riso
das crianças


185 – Na vila


Na vila
a calçada imita ondas
É mar em terra


184 – Catarina


De olhos baixos
Catarina espera,
está, não pensa


183 – Carinhos


Cabeça inclinada
recebe carinhos
da mão amada


182 – Azuis e rosas


Azuis e rosas
sobre a serra escura
- a noite cai


181 – O mar brinca


O mar brinca
na areia e o vento
tem gosto a sal



180 – Com rosas de dor


Com rosas de dor

fez a coroa de adeus

para seu amor


179 – Lírios brancos


Lírios brancos

lembram borboletas

pousadas nos campos


178 - Na magnólia


Na magnólia
num enlace vegetal
a hera sobe



177 – No tronco


No tronco cortado

existem caminhos

veios sagrados


176 – Doces palavras


Doces palavras
só por ela ouvidas
chegam pelo fio


175 – No trem


No trem a mulher
sentada em frente
viaja ausente


174 – Crista erguida


Crista erguida,
olhar fatal, o galo
pára o rival


173 - Entre a folhagem


Entre a folhagem

duas romãs conversam

inclinando as coroas


172 – Romãs gémeas


No mesmo galho

duas romãs gémeas

contam seus rubis


171 – Cachos de uvas


Cachos de uvas
pendentes da parreira

roxas, maduras


170 – Estrelícias


Estrelícias no jardim

parecem pássaros

emplumados


169 – Nos chapéus


Nos chapéus negros

as ceifeiras trazem

papoilas rubras


16 março, 2007

168 – Papoilas vermelhas


Papoilas vermelhas
nos campos de trigo
são canções ao Sol


167 – Pétalas


Pétalas cor de sangue
em redor do gineceu
dão as mãos


166 – Cabelos


Cabelos negros
e saias rodadas
elas dançam ao vento


165 – Meninas papoilas


Meninas papoilas
bailam graciosas
numa perna só


164 – Ursos


Ursos, carrinhos...
agora outros cuidados
e carinhos


163 – No jardim


No jardim, as Fadas
deixaram mil pérolas
de orvalho


162 – Surpresa


Surpresa olho
a cidade já noite,
o céu ainda dia.


161 – Na varanda


Lá na varanda
uma árvore dança
com sua sombra


15 março, 2007

160 – Linhas na neve


Linhas na neve
seguem entrelaçadas,
momentos breves


159 – No céu toldado


No céu toldado
uma ameaça paira.
Menino, corre!


158 – No forno


No forno
a peça inacabada
brilha em brasa

157 – Cravos de Abril


Cravos de Abril
como areia entre dedos
sumiram


156 – Foto a sépia


Foto a sépia
passado e futuro
sem distâncias


155 - Em Óbidos


Rente á muralha
entre proteção e prisão
- as casas


154 – Casas brancas


Casas brancas
janelas de guilhotina
cheiros antigos


153 – Noite a dentro


Noite a dentro
se alonga plangente
voz de fadista


152 – Marujo


Marujo gingão
de quadril apertado
segue seu fado


151 - Pensamento


Um pensamento
passou rápido por mim
nem o vi fugir


150 – Sono breve


Num sono breve
a mulher sonha leve

sem do chão sair


149 - Casino


Entrou no casino
perdeu casaco
e a compostura


148 – Rosa rubra


A rosa rubra
no calor escaldante
toda se abriu


147 – Bairro Alto


Nas ruas estreitas
cheiros e conversas
saltam janelas


146 – Cidade velha


Cidade velha
há olhares como punhais
escondidos


145 – Mergulhei


Mergulhei nesse olhar
sem pressa nem medo
de me entregar


144 – A bailarina


Com gestos de amor
a bailarina
equilibra a dor


143 – Coxim


No seu coxim
aguarda o amado
tocando bandolim


142 – Só na cadeira


Só, na cadeira
ela balança
e o tempo vai e vem


141 – Olhos gastos


Olhos gastos de chorar
ainda esperam
sem esperar


11 março, 2007

140 – O lago


O lago ondula
em círculos,
um peixe salta no ar


139 - A estrela


A estrela que no céu brilha
nem sabe
do nosso olhar


138 – Maçã


No Verão quente
a maçã balança ao vento
sem cair


137 - Malas


Malas na mão
finda a viagem
procura o coração


136 – No azul


No azul do céu
o avião escreve
um traço sem giz


135 – Sem te ver


Sem te ver senti
teus passos teu cheiro
surgiste vertical


134 – Uma sombra


Pela calçada
uma sombra desliza
surda e só


133 - Dedos ágeis


Dedos ágeis
correndo o teclado
enchem o ar de sons


132 – A onda


A onda ergueu-se
majestosa
a gemer espuma


131 – Acabou


Acabou o verão

Os secos campos

Clamam por chuva


10 março, 2007

130 – Cores de Outono


Cores de Outono
doçura triste
na terra e no ar


129 – É Outono


É Outono
as folhas passaram
de verde a dourado


128 - Suspensas


Suspensas do galho
as folhas
agarram-se à árvore


127 – Árvore velha


Árvore velha
tuas raízes-dedos
entram na terra


126 – Crisântemos


Deitou dois crisântemos
ao rio e despediu-se
de si


125 - Corpo a corpo


Fogo na floresta
- luta corpo a corpo
com os homens


124 – Meus dias


Meus dias são cheios
de horas de espera
- Cesta vazia


123 – Umbigo


As aves não têm umbigo
nascem soltas
voam cedo


122 – Sol da tarde


O Sol da tarde
faz sombras longilíneas
à “El Greco”


121 – Malmequeres


Malmequeres amarelos
são malcheirosos
mas belos


09 março, 2007

120 – Abóbora


Abóbora suculenta
não tem braço
e é perneta



119 – Olho o pássaro


Olho o pássaro
que lá no céu voa
sem de mim saber


118 – Como gotas


Como as gotas
da torneira, meus dias
caem perdidos


117 – O sino


O sino badala,
abafa a água
no chafariz


116 – Chapéu de palha


Meu chapéu de palha
fugindo no ar
é Sol pequenino


115 - Sem pressas


Sem pressas
olhou o Sol
e acertou o relógio


114 - Onde estão


Onde estão os pássaros
que cantavam
tua chegada


113 – Voou


Voou para o Sul
- estações mudadas
perdeu o norte


112 – Sol


O Sol mergulha no Mar
envolto em véus
azul-vermelhos


111 – Madrugada


Madrugada
o galo canta
e as galinhas esperam


08 março, 2007

110 - Pela campina


Pela campina
um cavalo corre
de crinas ao vento


109 - Ao Sol sentada


Ao sol sentada
as mãos no ventre
acaricia o filho


108 - Rolas


No alto pinheiro
rolas conversam
ao cair da tarde


107 – Vidraça


Vidraça molhada
o menino
desenha a estrada


106 - Primavera


Primavera,
flores-borboletas
esvoaçam efémeras


104 - Olhar


Olhar de promessa
em promessa ficou
-adeus sem gestos


103 – Escuras


Escuras nuvens
envolvem a serra
capote de chuva


102 - Sino



O som do sino
atravessa a noite
e a minha alma


101 - Folhas secas



Nas folhas secas
meus pés desvendam
histórias antigas


100 - No balanço


No balanço da rede
olho as nuvens
- cavalos do céu.


07 março, 2007

099 - Na rua


Na rua a chuva
fez um rio.
as formigas protestam


098 - Boneca


Boneca de trapo
no baú esquecida
quem te beijou?


097 - Pentagramas


Pentagramas floridos
Nas verdes árvores
-Primavera


096 - Areia


Areia branca da praia
deixa a morena
mais quente


095 - Mãos pequeninas


Olhos a brilhar
nas mãos pequeninas
trazias me o mar


094- Teus cabelos


Lento passo os dedos
em teus cabelos longos
côr de mel


093 - Fada


Como se fada foras
passaste leve
entre as flores


092 - Sentada


Sentada na grama
a menina chora,
- orvalho de flor


091 – No Inverno


Inverno, o vento
dança com as folhas
a seu contento


090 – Nuvens


Densas nuvens
sobem a serra
silêncio nos campos


089 – Frésias


Frésias amarelas
Primavera perfumada
- amigo vem

088 – Outono


A folha treme
vermelho-dourada,
silenciosa cai


087 - Inverno


No aconchego
da terra, a semente
espera viva


086 - Viola



Longe, noite escura
uma viola geme
amor murmura


085 - Tu


Um som, um cheiro
e sem te ver te vejo
- és tu inteiro


084 - Ausência


Por toda a casa
tua ausência
lenta se arrasta



083 - Vento leste


O vento leste
brinca leve
e lento a despe


082 - Narciso


Debruçado no lago
Narciso surpreso
se vê amado


081 - Narciso esquece

Olhando nos olhos
que a água reflete
Narciso se esquece


080 - Dança de leito


Minha cabeça
em seu peito, seus dedos
em meus cabelos


079 - Enlaço


Com mãos de hera
enlaço teu corpo
oferto em espera


078 - No rio


A folha no rio
segue cega
alheia a margens


077 - A sereia


Na praia a sereia
anseia a onda
que a salve da areia


076 – Chove


Chove na mata
o sapo
baba e coaxa


075 – O sapo


O sapo deixa a baba
e marca
sua passagem


074 – Minha cidade


Oh minha cidade
quem te fere
e a tal se atreve?!


073 – Torre


Torre de cimento
cravada a pino
na beira do cais


072 - Inverno


Inverno longo
pesado, cinzento,
tropeço nas horas


071– Neblina


Neblina densa
entre as árvores
senti minhas raízes


070 - Um homem


Um homem caminha
cabisbaixo e só,
perdeu o que não tinha


069 - A abelha


A abelha voa vai
vem volta pesada
dourada de pólen


068 - Varal


Sob o varal
a cerejeira prepara
o amanhecer


067 – Relógio


Na noite em silêncio
o relógio presente
marca o passado


066 – Arco-íris


Arco-íris, um anjo
cabelos ao vento
salta à corda


065 – Na cama


Na cama de nuvens
o sol espreguiça-se

- oblongo



064 – Alexandria


No céu de Alexandria
estrelas falam
mitologia


063 – Flores


Flores na árvore
esperam de branco
surgir o fruto


062 - Gato chinês


O gato chinês
espera sentado
por sua vez


061 – Voar


Voar sempre cansa
por isso ela corre
em passo de dança


060 - Saltos


Lá vai de saltos
Dona pata apressada
correndo aos saldos


059 – Desafio


Por desafio
vestiu-se de gueixa
amor não sentiu


058 – Saltando


Saltando da mesa
a túlipa
foi passear


057 - Olhar esquivo


Olhar esquivo
corpo ondulante
sonho vivo


056 - Um cão


Um cão sonolento
esticou as patas,
soltou um vento.


055 – O Príncipe


O príncipe sapo
fugindo ao mau hálito
voltou ao charco.

054 – Narigudo


O senhor narigudo
tinha olho torto
e no pé um fungo


053 – Carinho


Com muito carinho,
a tia gorda
surra o sobrinho.


052 – Abrindo


Abrindo uma fresta
do carro de luxo,
joga a meleca


051 – O sultão


Sentado no chão
de saco vazio
suspira o sultão


050 – Na janela


Na janela em frente
uma criança sorri
- falta-lhe um dente


06 março, 2007

049 – Teus cabelos


Teus cabelos soltos
pedem libertos
carícias de vento



048 – Cai a noite


Cai a noite
e tuas tranças desfeitas
num leito vazio


047 – Palmo a palmo


Palmo a palmo
dedo a dedo
inicio teu percurso


046 – Sem pressa


Meus dedos-olhos
desvendam sem pressa
doces mistérios


045 – Teu corpo


Teu corpo deitado
acorda desejos
não confessados


044 – Águia


Águia vê a minhoca
seu bico
nem a lama toca


043 – O ninho


No topo do choupo
o ninho persiste
-ai vento


042 – Pombo


Vento na árvore
semente no chão
pombo feliz