26 setembro, 2008

Primavera

Diz-me Primavera,
deusa-donzela
dos longos cabelos
e seios pequenos
como verdes maçãs:
Onde estão as flores
que me prometeste,
e as cores
dos imensos campos
libertos do inverno,
e os pássaros
onde teriam
deixado seus cantos?
Foi o Vento Norte
que tudo gelou,
ou o ar do deserto
que secou teu riso,
minha alegria,
meu doce bem?
Diz, minha Primavera,
e levantarei aos céus
minha revolta,
soltarei meu brado
com tanto ânimo
que os mares rugirão
e a branca espuma
tocará os céus.
E já vejo as nuvens
correndo loucas
para lá do fim,
do muro sem nome,
como que acordadas
dum longo torpor.
E já ouço os passos
dos meninos
que voltam correndo
puxando
as pipas no ar.
Chegaste enfim
doce Primavera
e a morna brisa
cobre lânguida
planícies e corpos,
deixando um leve
aroma de frésias,
canela e mato.