14 maio, 2011

Saudades


Saudades
de mim,
de ti,
quando eu
era eu,
e tu
eras tu.
Saudades
         da casa,
                    do mar,
                              do tempo sem pressas,
                               sem dores, nem remorsos.
Saudades do pássaro
que cantava ao amanhecer
e nos dava os bons dias.

Saudades...

                                                                                                                                                 

20 novembro, 2010

Quotidiano



Na praça, bem cedo,
havia Sol e cores,
alfaces e brócolos,
repolhos e couves,
tomates, pimentos,
abóboras e louro,
salsa,coentros,
cheiros e pregões

Numa bancada,
isoladas,
quatro couves
dançavam 
verdes e festivas...
Maravilhei-me
toquei,  cheirei
e trouxe-as comigo.

Fotografei,
estudei sua forma
e, meio culpada,
uma comi.
Agora três couves
murcham e esperam
ainda de verde
mas já não festivas.



427 A – Pequena gota



Pequena gota
desliza pela folha
e cai cantando


426 - Olhar atento



Olhar atento
o cão segue o dono,
- o seu menino.


425 - O gato avança



O gato avança,
patinhas de algodão
e num salto... záz!




424 - Pássaro tonto



Pássaro tonto
canta toda a noite,
dorme de dia.


423 – Num ritmo louco



Num ritmo louco
pés dançam no asfalto
ao som do tambor


422 – Por trás da máscara



Por trás de máscara
de sorriso aberto
um rosto dorme


421 - Dia de calor



Dia de calor
quase podemos cortar
o ar à faca


420 – Fim da Primavera



Fim da Primavera
lagartas obesas
sonham borboletas


21 julho, 2010

Canta, amigo


Cinco cravos na jarra,
   cinco dedos na mão,
     cinco estrelas no ar,
      

 Canta, canta,
   ai canta, amigo,
     teu sonho, sem parar,
       

Corre estradas,
  sobe a montes,
    atravessa o mar,
       

Canta, canta...
   ai canta amigo,
     canta sem cansar,
       
      
E o mar sobe
   e desce em espuma,
      num eterno balançar.


27 novembro, 2009

419 - Enigmático



Enigmático,
o sorriso do Buda
pode ser Tudo





418 – Um som se eleva



Um som se eleva
numa espiral sem fim,
tudo roda.





22 novembro, 2009

Te beijaria


Como te beijaria
meu Sol, meu amado,
se me sorrisses
Como te beijaria
meu amado, meu Sol
se não fugisses
Como te beijaria
oh Sol, meu amado,
se permitisses
Te beijaria,
te beijaria, meu Sol
Noite e dia
Te beijaria
     te beijaria
          te beijaria


Mulher dos olhos baços


Parada,
olhando sem ver
tão em si mesma perdida,
fechada
a outros olhares
a outros caminhos de vida,
ausente
de gestos e sorrisos
como estátua sem tinta,
olhos baços
sem leitura
intemporais e gastos,
como janelas
protegidas
por cortinas de luto,
enigma
que tudo pode ser,
qual vasilha vazia
pronta a receber
água e vinho,
murmúrios de vento,
e dores do parto.

Ali estava ela
como que esquecida
como se esperar
fosse seu destino na vida.



Sem limites



Contra ventos
e marés
abriu asas
e voou,
cruzou céus
iluminados
atravessou
mil tormentas,
foi a águia
na montanha
e o albatroz
no mar,
viu nuvens
castelos no ar
e barcos
como dançando,
sentiu fome
e tanto frio
de coração
solitário,
que bateu asas
mais forte
e subiu
subiu ao alto,
deixando
o mundo
para trás,
sentiu dor
e alegria
ao poder
o Sol olhar,
de tão próximo
que doía,
e desejou
poder ir
ainda além
do seu olhar






Mãos dadas





Ele era jovem
ela jovem era,
olhos nos olhos
mãos entrelaçadas
caminharam leves
sem muito pensar,
correram descalços
por campos e praias
em dias de sol
em noites de lua,
entraram no mar
saltaram nas ondas,
miraram o céu
de mil estrelas
nele a brilhar,
e sem pressas
se amaram
e amaram
tudo ao redor.
Pararam então
e para si olharam,
ele era velho
ela velha era,
sorriram tranqüilos
deram-se as mãos
e foram jantar.





Como se inventadas



Como se inventadas
estranhas criaturas
deslizam descuidadas
nas águas escuras.
Os corpos esguios
como notas de música
duma antiga melodia
indo e voltando
sem repetir compassos.
Os rostos brilhantes
como lembranças
de reflexos lunares,
algures numa noite
de verão vivido.
Os cabelos asas
como leque aberto
em caricias de vento,
levam para os céus
minhas doces ninfas.



18 novembro, 2009

417 - O vento passa


O vento passa
e nos cabelos fica
um sabor a Mar





416 - Olhos fechados



Olhos fechados
e o dia perpassa
como filme





415 – Flor nos cabelos



Flor nos cabelos
sou Madame Crysanthème
sou Primavera



414 – Raios de Sol



Raios de Sol
pintam de alegria
rostos e casas velhas





413 - Montes redondos



Montes redondos

enquadram a planície
que dorme em paz





412 – As Fadas azuis



As fadas azuis
de alfazema vestidas
espalham fragrâncias




411 – Pipas bailam



Pipas bailam nos céus
e a sombra segue o homem
pelo chão





410 – Mil pensamentos



Mil pensamentos
em noite de insónia
dançam de roda





409 - Em confissão



Em confissão
bons e maus sentimentos
se dão a mão

408 – Meio a medo



Meio a medo
um pequeno fio de água
galga montanhas





407 – Anjos harpejam



Anjos harpejam
em choro soluçado,
a Terra treme





406 – Com raios de Sol



Com raios de Sol
teceu um manto doirado
para seu amado





405 – De azul envolta



De azul envolta
num manto de chuva
grito pelo Sol





404 – Rochas caminham



Rochas caminham
na praia deserta
no retorno ao mar





403 - Fim de tarde





Fim de tarde
no vai vem das ondas
disseram-se adeus





402 – Sem medo do frio





Sem medo do frio
brincam nas ondas
como gaivotas





401 – Parte de mim é Céu



Parte de mim é Céu
parte de mim é Mar
- Terra no meio





400 - Um amor perfeito



Um amor perfeito
amarelo e roxo
ri no
jardim




22 outubro, 2009

399 - A gata dorme









A gata dorme
olhos semi serrados
orelhas em









398 - Pranto de fogo




Pranto de fogo
Sobe da fogueira
- adeus do pinheiro





26 setembro, 2009

397 - O velho casal



O
velho casal
sentado á
lareira
fala sem palavras



396 – Na noite tranquila



Na
noite tranquila
o
ronco dum carro
desperta a
vila




395 – Olhando o céu



Olhando o céu
senti a
tristeza
do
anjo sem asas.





394 - Na água que ficou



Na água que ficou
da onda que se foi
brilha um pedaço de céu



393 - No meio do jardim



No
meio do jardim
a
mulher de pedra
embala o filho.



392 – Sons de viola



Sons de viola
sobem e descem no
ar
brincam de
apanhar




391 – A criança vê



A
criança
a
mariposa azul
e
quer ela ser



12 setembro, 2009

390– Flores dançam



Flores dançam
no meio do canteiro
ao sabor do vento



389 – Desejou



Desejou
poder ir onde ia
o seu olhar



388 – Olhos no céu



Olhos no céu
conversa com as nuvens
- será que chove?



387 – Branca de neve



Branca de Neve
menina amada
de
conto de fadas




386 – É Outono



É Outono
o ar leve e morno
chega do mar.



385 – A branca neve



A branca neve
tece seu manto
em silêncio




384 – Rochas brincam no mar



Rochas brincam do mar
envoltas em espuma
como crianças



383 – Meio dormindo



Meio dormindo
o meu menino abraça
o urso amigo



382 – Frágil semente



Frágil semente
se guarda não sente
pressa em se dar




381 – Saltam felizes



Saltam felizes
pelo meio dos campos
meninos em flor




380 - Tempo de caça



Tempo de caça
desassossego para o cão
e o coelho



379 – A centopeia



A centopeia
caminha em seus cem pés
sem se, nem tropeçar



378 – Noite insone



Noite insone
uma torneira chora
pingando sem fim



377 – Gato siamês



Gato siamês
de máscara e luvas
Quem foi que te fez?




376 - A renda cresce



A renda cresce
da linha que dança
nas mãos dedicadas



375 – Olhar do mestre



Olhar do mestre
por cima dos óculos
varre a sala





374 – Prova acabada



Prova acabada
salta de alegria
ri à gargalhada



373 – O vento uiva



O vento uiva
acordando o gato
que se arrepia



372 – A sombrinha azul



A sombrinha azul
conversa no parque
com sua sombra





05 agosto, 2009

371 – A semente



A semente cai
na terra fendida
e lenta germina




370 - No velho rosto



No
velho rosto
a
renda de rugas
mostra o passado



369 - Longas raízes



Longas raízes
se alongam
pelo chão
veios de sangue



368– Olhos no teto



Olhos no teto
sem hora marcada
a
mulher espera



367 V – Breve soluço


Breve soluço,
gesto inacabado,
suave partiu



366 – Trocam olhares



Trocam
olhares
no
banco da escola
_
primeiro amor





365 – Fim do dia



Fim do dia
a centopéia cansada
conta sapatos



364 – Bebendo chá



Bebendo chá
em pequenos goles
sonha orientes



363 - Lagarto verde



Lagarto verde
no canteiro de flores
busca um chapéu



362 – Parada de medo



Parada de medo
frente ao abismo
deseja asas



361 - Sapato gasto



Sapato gasto,
olhar triste e vago,
o mendigo vai



360 – Branca neblina



Branca neblina
veste a Primavera
qual véu de noiva



359 – Tartarugas seguem



Tartarugas seguem
em seu passo lento
a casa às costas



358 - Pensamentos


Pensamentos
sem limites nem fronteira
vagueiam no
ar



357 – No olhar do gato



No olhar do gato
sigo o pássaro
voando no céu



356 - A nuvem rosa



A nuvem rosa
de ondulantes formas
desperta sonhos



355 – Dentro do ovo



Dentro do ovo
o pintinho
espera
o
fim do choco



354 - No meio da teia



No meio da teia
a paciente aranha
espreita



353 - Pobre canguru



Pobre canguru
na bolsa encolhido
sem pelos e nu



25 julho, 2009

352 - Balão vermelho



Balão vermelho
fugindo no céu sem fim
leva meu olhar



351 – Menino ao Sol



Menino ao sol
espera tranquilo
hora de deitar



350 – Contra o céu azul



Contra o céu azul
ergue-se vertical
o negro pinheiro



349 - Num bater de asas



Num bater de asas
cortam os céus
as terras e os mares


348 - Seguem felizes



Seguem felizes
no céu sem fronteiras
donos do Mundo



347 - Dando se as mãos



Dando se as mãos
trocaram promessas
de futura vida



346 - Lado a lado



Lado a lado
sobrevoam tranquilos
o mar agitado


345 - Pequenos peixes



Pequenos peixes
brincam com suas sombras
na onda rasa



344 – Um vento forte



Um vento forte
correu pela cidade
gritando chuva



343 - Sonhando acordada



Sonhando acordada
acabou o dia
sem o sentir



342 – Um peixe azul



No meio do lago
As carpas dançam
Com um peixe azul