26 setembro, 2008

Primavera

Diz-me Primavera,
deusa-donzela
dos longos cabelos
e seios pequenos
como verdes maçãs:
Onde estão as flores
que me prometeste,
e as cores
dos imensos campos
libertos do inverno,
e os pássaros
onde teriam
deixado seus cantos?
Foi o Vento Norte
que tudo gelou,
ou o ar do deserto
que secou teu riso,
minha alegria,
meu doce bem?
Diz, minha Primavera,
e levantarei aos céus
minha revolta,
soltarei meu brado
com tanto ânimo
que os mares rugirão
e a branca espuma
tocará os céus.
E já vejo as nuvens
correndo loucas
para lá do fim,
do muro sem nome,
como que acordadas
dum longo torpor.
E já ouço os passos
dos meninos
que voltam correndo
puxando
as pipas no ar.
Chegaste enfim
doce Primavera
e a morna brisa
cobre lânguida
planícies e corpos,
deixando um leve
aroma de frésias,
canela e mato.

26 julho, 2008

308 - Saudade



Saudade,

rio que corre, doí, corroí
e não chega ao mar


19 março, 2008

307 - No balanço da onda


No balanço da onda
a folha segue seca
e só


306 – O gato ao sol


O gato ao sol
macio e peludo
ronrona feliz



305 - Num acto de amor



Num acto de amor
o sol beija o mar
antes de deitar


304 - Noite de Natal


Noite de Natal
Das casas sai aroma
de amor e mel



303 - O ipê roxo



O ipê roxo
à porta plantado
Parece sorrir



302 – Olho triste


Triste eu olho
os olhos do passado
que olham sem ver