16 fevereiro, 2007

Doce recordar

No dia em que casei
toda eu era sorrisos
laranjeira e tafetás
renda-pérola vestida
a casa cheia de flores
correrias e amigos.
Minha Tia me chamava
e baixinho assim dizia


– Quem se casa, assim não ri!
– Mas porquê, se sou feliz?!
– Guarda isso só para ti.
– Não posso parar de sorrir,
o dia é lindo. É o meu dia!
– Mas uma Noiva não ri.
– Porquê, porquê, minha Tia?
– Deve temer e estar triste,
porque deixa Pai e Mãe,
vai começar nova vida.
– É por isso que me rio:
vai ser nova minha vida!
– Não sabes como ela será.
– Será minha! A Minha Vida.
por isso canto e sorrio.
– Quem muito ri mais chorará.
– Pois quem viver, logo verá!
– Mas faz como te digo:
guarda esse sorriso
guarda-o bem só para ti.
– Porquê, porquê minha Tia,
esconder minha alegria?
– Menina, que vão pensar?
assim não é decente,
pode mesmo dar azar...
– E eu com isso ralada!
Quero rir, quero bailar,
pintar no céu arco-íris,
o Sol e a Lua beijar...


Tantos anos passaram
Houve risos e houve dor
Mas quanta coisa aprendi...
Caminhos de mar e terra
Pedras, silêncios, clarões
Quase em pedaços fiquei...
Mas foi cheia minha vida
e os filhos frutos de amor.

Adeus, adeus minha Tia
Sou pássaro, onda e flor.
Meu olhar não tem limites
Nem limite meu amor
Sou terra e o sol me beija
Sou estrada e nela caminho
É mais terno meu sorriso
E doce o meu recordar.

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