Encantamento
(a meus netos)
Voava a pomba perdida
sem encontrar o pombal,
via campos, verdes campos
em nenhum seu laranjal.
Ao longe o mar bramia
lutando com o pinhal
que segura as areias
das praias de Portugal.
Foge a pomba assustada
entre a montanha e o vale
procurando um ramo achar
longe de qualquer mal.
Já o dia se acabava
ouviu-se a trompa real,
era o príncipe herdeiro
e todo o seu arraial.
Parou a comitiva
bem junto ao roseiral
acenderam a fogueira
limparam espada e punhal.
– "Quem geme e baixo soluça
nem gente nem animal?"
– "Ai de mim que estou perdida
voar, voar para o laranjal…"
– "Pobre pomba branca e fria
que o meu peito te salve."
E o príncipe recolheu-a
perante o espanto geral.
Ao afagar-lhe a cabeça
encontrou duro sinal,
era um negro diamante
cravado a pedra e cal.
"Teus olhos choram por mim
ai pomba do meu pombal.
Vem, que te salvarei
serei teu servo leal".
E com os dentes quebrou
o encantamento fatal.
Cobriu-se o campo de flores
amadureceu o trigal
a pomba virou donzela
com coroa de laranjal.
Saltaram para o cavalo
ouviu-se a trompa real.
E em alegre convívio
chegou o conto ao final.
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